terça-feira, 1 de agosto de 2017

Certo dia eu fui alguém. Naquele momento eu me dera conta de que eu sempre tinha sido um alguém. Quem? Alguém. Qualquer pessoa que quisessem que eu fosse, o que fosse cômodo para outro alguém. O que importava era não desagradar, era ser boa para "o outro". Não importava quem, por baixo de tudo aquilo, eu era realmente. O que importava é que aquele alguém estava feliz por eu vestir aquela fantasia.
Mas naquele momento, quando eu me dei conta de que ser alguém era o meu normal, eu não era ninguém. Aquele outro que me dava nome havia partido e, como eu achava que era vazia, me tornei ninguém. Eu não sei explicar a dor de me desencontrar em mim mesma. É uma dor aguda, assustadoramente difusa. Dói tudo mas não se sabe o quê. Mas dói.
Então, quem eu era? Ser alguém dependia de estar com outrem? Quem ocupava aquele corpo, aquela cabeça cheia de pensamentos que me fazia estar viva?
O processo de me encontrar foi longo. Naquela estrada árida até o interior de mim, por diversas vezes eu desencontrei daquele caminho que eu mesma criava. Eu desisti e tentei voltar, mas não havia caminho de volta. Por mais que eu parasse e olhasse para a escuridão de ser ninguém, meus olhos sempre iluminavam fragmentos de mim. E, aos trancos e barrancos fui montando aquele quebra-cabeças de mim. E então eu descobri que eu era o meu lar.

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Longe de mim, em qualquer lugar do planeta (quiçá na mesma Beagá que eu) um outro ninguém recebia o nome que alguém lhe dava. Aquele - então alguém - sorria por ter quem lhe desse um nome, uma fantasia bonita que só quem é pode ter. Não importava a farsa e tampouco o desconforto que às vezes sentia. O que importava era a felicidade momentânea que aquela fantasia lhe causava e, sobretudo, ao "seu outro". Mas a verdade é que por baixo da fantasia ele não via nada, embora soubesse que uma essência qualquer o fazia vivo.
Assim como eu, aquele alguém passou à condição de ninguém de um dia para o outro, quando partiu quem lhe dava forma. "Quem sou eu?" - questionava ao vazio. E nenhuma resposta lhe era dada.
Percorreu um caminho diferente. Antes de perceber que estava perdido, tentou encontrar o que era quando era alguém e desabou ao perceber que aquele alguém já não existia.

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Certo dia eu encontrei ninguém. Com dificuldade ele havia iluminado as primeira peças de si e eu já conseguia vê-lo. De fato, seus contornos não eram tão claros mas, por trás da nuvem de medo, ele era extremamente bonito. Eu sabia que, assim como o meu, seu caminho não era curto ou fácil. Mas um sentimento me impelia a ajudá-lo a percorrer seu caminho. Eu tive empatia imediata e prontamente o amei.

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