sexta-feira, 21 de maio de 2021

There and back again

 Lá vou eu mais uma vez. 

22 de maio de 2021, 00:38, durante a eterna pandemia, espero mais uma vez uma pizza. Quantas terão sido as pizzas, as angústias, as pandemias? Quantas vezes, nesses 14 meses, eu já quis escrever e tive medo de me encontrar aqui, sozinha, com os meus pensamentos, com aquilo que eu posso ser quando ninguém me lê ou escuta? Ou seria essa uma terceira pessoa de mim, aquela que escreve fingindo que ninguém vai ler, mas no fundo gostaria que? Terapias à parte... 

Eu não queria pensar que meus escritos serão encontrados por uma sociedade futura, como um resquício de tempos idos. O coração e a respiração aceleram, pois é isso que me vem à mente. Depois chega aquela vozinha, aquela mesma, a sabotadora ou salvadora, aquela segunda pessoa de mim que diz "Se liga, doida, tu tá de boa sentada na tua cama, computadorzinho aberto, friozinho gostoso, na tua casa, teu emprego garantido, gatinho se lambendo do lado, esperando a simples porra de uma pizza. Não é revolução, é só um texto.". Obrigada, senhora segunda. Quem seria eu sem você. Mas ainda tenho medo de não estar aqui no mês que vem, ou quem sabe no outro. 

Se você for de uma sociedade superior, deste planeta ou não, desta dimensão ou não, por favor ignore meus devaneios.

Hoje conversei com amigos sobre a possibilidade de fazermos um podcast. Achei interessante, até lembrar que me sinto absolutamente vazia, com nada a adicionar sobre nada. Parei pra pensar rapidamente em mim e decidi escrever o que se passou nos últimos tempos. Pensei em pegar um papel e caneta, mas meus dedos já se cansaram com a ideia. Liguei o computador no bom e velho Word, até que lembrei desse blog guardado e mofado, assim como tenho largado quase todas as coisas esse ano. Minha última postagem é linda, mas também muito reveladora a respeito de coisas que hoje estou analisando junto de alguém que me diz "fala mais sobre isso" e consegue tirar um tanto de bizarrices de dentro de mim. Terapia, enfim, tem sido algo que ocupa minhas tardes de segunda e, secretamente, todos os meus sonhos e momentos mais aleatórios.

Mas então o que eu tenho feito? Tenho travado os dentes e evitado quase tudo, comido muito e dormido ainda mais. Tenho trabalhado muito pouco, já que o home office é praticamente só 'home' considerando o que eu faço. Com uma frequência variável, mas insuficiente para minha sanidade, vou ao meu local de trabalho matar a saudade das plantas e eventualmente de um ou outro colega. Eu cheguei ao ponto de gostar de reuniões online pelo simples fato de poder ver pessoas - muitas insuportáveis - que eu conheço e que fazem parte daquela vida que (1) eu não sei quando volta (2) se volta (3) que eu espero que volte. Além das poucas visitas às plantas, tenho assistido muitas séries e filmes - tirando o atraso de uma vida acadêmica inteira. Mas a melhor novidade pandêmica foi me aprofundar no mundo maravilhoso dos podcasts, que vão desde os assuntos mais inúteis da vida aos mais relevantes da política nacional (estes me deixam igualmente informada e irritada). 

A pandemia trouxe um novo (pelo menos para mim) estranho costume de competir por produtividade até mesmo em coisas que deveriam ser prazerosas.. "Nossa, nesse mês eu li 5 livros", "Pois eu escrevi 2 artigos". Não, eu não tenho lido nada, não tenho feito nada exatamente útil. Não consigo me concentrar em nada desde o começo da pandemia ou um pouco antes. Li um total de 1 livro - de contos - que os melhores competidores talvez diriam que era pra ler em uma única cagada. Iniciei uns 5 livros que tenho lido e relido o primeiro capítulo ou parágrafo, até lembrar de olhar aquela rede social e esquecê-los na mesa de cabeceira. Nos primeiros meses da pandemia, quando inventei de me meter nessa competição, consegui fazer alguns cursos de capacitação que eu adiava e me engajei rapidamente em alguns antigos projetos acadêmicos, que abandonei mais rápido ainda. Me sinto culpada e ainda não sei lidar com a culpa ou com a necessidade de retomá-los. Não sou uma boa competidora e nem sei se quero ser.

Mas agora está tarde (entre pizza, escritos, redes sociais e jogos de buraco, cheguei a 03:45 da madrugada) para lembrar do problema inicial. Quem sabe numa próxima postagem eu encare a dúvida de quem eu sou. Espero que não demore mais um ano. Espero que os alienígenas do futuro não encontrem essa pergunta sem resposta.    


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

você é maravilhosa

Por mais vazias que essas palavras parecessem saídas de outras bocas (e tantas bocas as repetiram nos últimos tempos), foi na dele que elas tomaram a forma da verdade.
Eu sou maravilhosa.
E embora carregada de angústia, não por nunca ter sabido - no fundo eu sempre soubera - mas por somente acreditar quando vindo da boca de um homem, eu resolvi simplesmente sentir. Me sentir maravilhosa.
Há tempos eu não experimentava essa sensação. Eu era uma deusa em sua boca. O seu prazer era me sentir inteira, em todos os significados que isso possa ter. Ele me queria maravilhosa.
Me senti algo além de mulher, enquanto suas mãos, fortes mas delicadas, não só deslizavam pelo meu corpo como as outras, mas exploravam com destreza toda a minha carne, em seus mínimos detalhes. Ele queria me sentir além da pele, eu lia em seus olhos exaltados e nos lábios úmidos. Ele queria o que há de divino em mim, que vai além do corpo, além do cheiro e do sabor. Ele queria saber, com sua língua, quem eu era além do que se pode sentir.
Maravilhada, me abri como abriria apenas para mim, para que seu corpo pudesse esperimentar nada menos que minha alma. E fui, então, bebida até a última gota pelo homem que me fez lembrar quem eu sou, o que eu sou.
Maravilhosa.

domingo, 16 de setembro de 2018

sunday night

não sinto fome, mas quero comer a minha vontade de ter você de novo
fumo um cigarro
separo meia dúzia de roupas pra lavar
desisto
olho pro nada e penso o que que tenho que fazer
decido por vinte minutos
lavo as louças que escancaram a lembrança de quando eu ainda te tinha
cinco dias de louça
cinco dias sem você
ponho o lixo pra fora
compro a minha comida preferida, que hoje não tem gosto de nada
"meu coração é uma máquina de escrever"
me sento à sua mesa de trabalho
vejo sua letra num bilhete qualquer
meus olhos se escondem
digito freneticamente o que me vem à cabeça, qualquer coisa que me faça esquecer
eu tento engolir a saudade, mas ela não desce
a comida, engole a comida
as lágrimas rolam
a comida não desce porque a saudade ainda está presa lá
"por que não somos racionais?"
acho que nunca descobrirei
acho que vou escrever um artigo
acho que vou dormir
acho que vou vomitar
"but I'm a creep"
esse gengibre é muito bom... me lembra o sabor da sua boca quando sentia medo
engole depressa e esquece
eu fingia não ter medo pra você se sentir seguro
"amar alguém só pode fazer bem"?
não sei porque acreditei nisso
eu quero dormir e só acordar quando a dor passar
eu quero não querer mais ninguém
eu quero não sentir
eu quero que o tempo volte pra eu te dizer que não quero tentar te amar
eu quero fugir covardemente da dor do futuro
dor certa, só eu não vi
ou vi?
eu quero ser racional pelo menos uma vez na vida
ou sou?
eu quero me deixar levar pelo meu coração
eu quero não saber que vão pisar nele
"e já que não entendes não me julgues não me tentes"
eu sou feliz, porra, eu sou feliz
eu estou bem, eu sou suficiente
só faltava você
eu não quero mais, eu queria querer
mas você não quis
o [meu] amor é ansioso

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Certo dia eu fui alguém. Naquele momento eu me dera conta de que eu sempre tinha sido um alguém. Quem? Alguém. Qualquer pessoa que quisessem que eu fosse, o que fosse cômodo para outro alguém. O que importava era não desagradar, era ser boa para "o outro". Não importava quem, por baixo de tudo aquilo, eu era realmente. O que importava é que aquele alguém estava feliz por eu vestir aquela fantasia.
Mas naquele momento, quando eu me dei conta de que ser alguém era o meu normal, eu não era ninguém. Aquele outro que me dava nome havia partido e, como eu achava que era vazia, me tornei ninguém. Eu não sei explicar a dor de me desencontrar em mim mesma. É uma dor aguda, assustadoramente difusa. Dói tudo mas não se sabe o quê. Mas dói.
Então, quem eu era? Ser alguém dependia de estar com outrem? Quem ocupava aquele corpo, aquela cabeça cheia de pensamentos que me fazia estar viva?
O processo de me encontrar foi longo. Naquela estrada árida até o interior de mim, por diversas vezes eu desencontrei daquele caminho que eu mesma criava. Eu desisti e tentei voltar, mas não havia caminho de volta. Por mais que eu parasse e olhasse para a escuridão de ser ninguém, meus olhos sempre iluminavam fragmentos de mim. E, aos trancos e barrancos fui montando aquele quebra-cabeças de mim. E então eu descobri que eu era o meu lar.

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Longe de mim, em qualquer lugar do planeta (quiçá na mesma Beagá que eu) um outro ninguém recebia o nome que alguém lhe dava. Aquele - então alguém - sorria por ter quem lhe desse um nome, uma fantasia bonita que só quem é pode ter. Não importava a farsa e tampouco o desconforto que às vezes sentia. O que importava era a felicidade momentânea que aquela fantasia lhe causava e, sobretudo, ao "seu outro". Mas a verdade é que por baixo da fantasia ele não via nada, embora soubesse que uma essência qualquer o fazia vivo.
Assim como eu, aquele alguém passou à condição de ninguém de um dia para o outro, quando partiu quem lhe dava forma. "Quem sou eu?" - questionava ao vazio. E nenhuma resposta lhe era dada.
Percorreu um caminho diferente. Antes de perceber que estava perdido, tentou encontrar o que era quando era alguém e desabou ao perceber que aquele alguém já não existia.

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Certo dia eu encontrei ninguém. Com dificuldade ele havia iluminado as primeira peças de si e eu já conseguia vê-lo. De fato, seus contornos não eram tão claros mas, por trás da nuvem de medo, ele era extremamente bonito. Eu sabia que, assim como o meu, seu caminho não era curto ou fácil. Mas um sentimento me impelia a ajudá-lo a percorrer seu caminho. Eu tive empatia imediata e prontamente o amei.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

depois melhora

Não é o sexo
É o jeito que ele, deitado ao meu lado, discorre sobre os mistérios do universo
Não são os beijos
São os olhos, na frente dos quais me sinto nua, e que parecem velhos amigos dos meus
Não é o toque
É o quanto me sinto bem no seu silêncio
Não é o nosso desejo infinito
É o que sou quando ele existe em mim

domingo, 25 de dezembro de 2016

um breve mergulho no azul

leve
um leve medo
de perder-se
de afundar
de flutuar
de soltar o corpo [no nada]
de respirar [sem pressa]
de ver o azul [infinito das possibilidades]
de não saber
de não prever
de não ter chão
de não ser firme
de não ser fixo
de ser 
livre

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

"Na bruma leve das paixões que vêm de dentro
Tu vens chegando pra brincar no meu quintal
No teu cavalo peito nu cabelo ao vento
E o sol quarando nossas roupas no varal
Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais
A voz de um anjo sussurrou no meu ouvido
E eu não duvido já escuto os teus sinais
Que tu virias numa manhã de domingo
Eu te anuncio nos sinos das catedrais

Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais"