quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

passagens

Tenho sentido uma vontade incrível de escrever o que foi esse ano pra mim. A passagem de um ciclo para outro me provoca isso. Mas na maioria das vezes me calo, pois não é possível ser fiel à realidade, nem com minhas próprias palavras. Tenho preferido simplesmente viver.

Comecei 2013 com esperança. Este ano seria o fim de um martírio - no caso, o mestrado e tudo o que ele trouxe de dor - e o início de uma nova fase da minha vida. Eu esperava juntar meus trapinhos com alguém que eu amava... finalmente poderíamos ser, livremente, sem barreiras de tempo ou espaço. Viveríamos juntos em Belo Horizonte, uma cidade pulsante.

Aprendi ao longos dos anos a cultivar esperanças e me apegar às expectativas. Eis que sou surpreendida por uma rasteira da realidade. Vi desmoronar tudo o que construíra ao longo de três anos. O que me parecia um castelo de pedras caiu como um castelo de cartas. Era frágil, efêmero e volátil. Me deixei esquecer do que eu sempre dissera pra outros: "amor não é suficiente".


"(...)Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar. 
Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia - a covardia é o que de mais novo me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la -, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Até agora achar-me era já ter uma ideia de pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava, e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver. A ideia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna, daquela que me plantava no chão. Mas e agora? estarei mais livre?"  
A Paixão Segundo G. H. (Clarice Lispector)


A cidade pulsante tornou-se fosso em torno daquele castelo em ruínas. E lá ficamos, eu e os dragões que outrora me protegiam do que vinha de fora, e que agora me faziam brasa.

Aquele apartamento de paredes brancas me sufocava. Eu e o sentimento de vazio ocupávamos todos os espaços. Via meus sonhos em todos os cantos. A sala era preenchida por um sofá e uma mesa com toalha colorida. O quarto era ocupada pela cama, palco da nossa felicidade, com umas tantas coisas espalhadas pelo chão. Na cozinha fazíamos comidas deliciosas, bebíamos cerveja, ríamos e às vezes discutíamos se faltava sal ou açúcar no amor. Vi a nós dois diariamente por dois longos meses. O vulto de quem nunca esteve por lá.

Alguns amigos pareciam perceber minha dor e silenciavam, oferecendo o ombro, mesmo distante, pras minhas lágrimas. Outros ignoraram minha condição e os deixei ir. Outros surgiram naquele momento e me deram a mão.

Eu lembro da minha primeira cervejinha em Belo Horizonte, pouco mais de um mês após a minha chegada. Lembro das primeiras saídas de casa, das primeiras pessoas que conheci. Lembro também da primeira boca que beijei e do primeiro homem que entrou na minha casa e ocupou os espaços onde meus fantasmas moravam. E aos poucos as paredes brancas se tornavam coloridas: uma cor que só eu conseguia ver.

Também ocupei o vazio da minha casa com a companhia alegre de uma amiga, que tem me ensinado a conviver com as diferenças. Sua leveza me inspira.

Pela primeira vez assumi que precisava mesmo de ajuda. Descobri as maravilhas da terapia cognitivo-comportamental e da yoga. Assim iniciou a busca por auto-conhecimento.

Aprendi a respirar.


Se eu considerasse apenas os altos e baixos desse ano, certamente diria que o saldo foi negativo e suspiraria com alívio pelo fim deste ciclo. Considerando, entretanto, o aprendizado total, digo que este ano foi genial.
E me atrevo a dizes que os objetivos traçados para este ano foram atingidos... mesmo que de uma maneira diferente:

Fui morar com alguém que amo: primeiramente, comigo mesma, e posteriormente com minha amiga.
Passei a ser, livre das barreiras de tempo e espaço.
Vivo em Belo Horizonte, uma cidade que pulsa na mesma velocidade que meu coração.


E que 2014 me surpreenda com aprendizados ainda maiores. 

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

amar alguém

Me pergunto até que ponto é ruim gostar, se apegar, (amar?), sentir carinho por alguém...

Também não sei até onde seria bom...


"Amar alguém só pode fazer bem
Não há como fazer mal a ninguém
Mesmo quando existe um outro alguém

Mesmo quando isso não convém"

Amar Alguém (Marisa Monte)

domingo, 11 de agosto de 2013

dizem que é assim que começa...


Sempre pensei como diabos se faz pra começar a escrever. Bem, percebi (ridiculamente) que se faz assim como todas as outras coisas: fazendo.

Começar dói. Mas dói ainda mais em pessoas perfeccionistas, que não se permitem errar. Me lembra as seções de terapia em grupo do One Flew Over the Cuckoo's Nest. Então é assim que vou começar.


"- Oi. Meu nome é Deborah."

"- Oi, Deborah......"

"- Eu estou aqui porque, mais uma vez, me sinto completamente perdida. Na verdade estou completamente perdida há 5 meses, desde que fui morar em Belo Horizonte.
Sou cearense, tenho 25 anos, escorpiana com ascendente em virgem, sou bióloga formada na Universidade Federal do Ceará (em Fortaleza, de onde sou natural), mestre em Botânica pela Universidade Federal de Viçosa (em Minas Gerais) e doutoranda em Biologia Vegetal na Universidade Federal de Minas Gerais (em Belo Horizonte, onde moro).
Não estou exibindo meu currículo pra vocês. Não tenho nada pra mostrar. Sou mediana. Mas a verdade é que a vida acadêmica foi o que me tirou de casa e continua me guiando por aí, portanto não poderia deixar de explicá-la.
Sim, estou sempre me explicando. Como se houvesse uma entidade "eles" que sempre me observa e julga. E há? Não sei, prefiro explicar.

Existe algo que se agita dentro de mim. E não são borboletas. Talvez sejam pensamentos...

E é por isso que estou aqui."